O Aulão desta sexta-feira envolveu o tema "Era Vargas e a Poesia Social de Carlos Drummond de Andrade". As professoras Isabel Cristina e Isabel Muniz falaram acerca do transtornado período Vargas e da denúncia social feita por Drummond em um de seus mais famosos poemas, "A Flor e Náusea". Temas recorrentes no ENEM, Era Vargas e Poesia Social de Drummond são assuntos que precisam estar "na ponta da língua" dos alunos quando o assunto é vestibular.
Poema de abertura: "Mundo Grande", narrado pelo próprio Carlos Drummond de Andrade:
Vídeo sobre "Músicas na Era Vargas":
Poema "A Flor e a Náusea" e link para análise do texto:
1 Preso à minha classe e a algumas roupas,
2 vou de branco pela rua cinzenta.
3 Melancolias, mercadorias espreitam-me.
4 Devo seguir até o enjôo?
5 Posso, sem armas, revoltar-me?
6 Olhos sujos no relógio da torre:
7 Não, o tempo não chegou de completa justiça.
8 O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.
9 O tempo pobre, o poeta pobre
10 fundem-se no mesmo impasse.
11 Em vão me tento explicar, os muros são surdos.
12 Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
13 O sol consola os doentes e não os renova.
14 As coisas. Que tristes são as coisas consideradas sem ênfase.
15 Vomitar esse tédio sobre a cidade.
16 Quarenta anos e nenhum problema
17 resolvido, sequer colocado.
18 Nenhuma carta escrita nem recebida.
19 Todos os homens voltam para casa.
20 Estão menos livres mas levam jornais
21 e soletram o mundo, sabendo que o perdem.
22 Crimes da terra, como perdoá-los?
23 Tomei parte em muitos, outros escondi.
24 Alguns achei belos, foram publicados.
25 Crimes suaves, que ajudam a viver.
26 Ração diária de erro, distribuída em casa.
27 Os ferozes padeiros do mal.
28 Os ferozes leiteiros do mal
29 Pôr fogo em tudo, inclusive em mim.
30 Ao menino de 1918 chamavam anarquista.
31 Porém meu ódio é o melhor de mim.
32 Com ele me salvo
33 e dou a poucos uma esperança mínima.
34 Uma flor nasceu na rua!
35 Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
36 Uma flor ainda desbotada
37 ilude a polícia, rompe o asfalto.
38 Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
39 garanto que uma flor nasceu.
40 Sua cor não se percebe.
41 Suas pétalas não se abrem.
42 Seu nome não está nos livros.
43 É feia. Mas é realmente uma flor.
44 Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
45 e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
45 Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.
46 Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.
47 É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.
(Carlos Drummond de Andrade, "A flor e a náusea", p. 27-28)
Leia mais em: http://www.webartigos.com/artigos/a-cidade-e-o-mundo-em-039-a-flor-e-a-nausea-039-de-carlos-drummond-de-andrade/16564/#ixzz2MKYtYhIV
A questão não é se a flor vai aparecer e sim se alguém vai nota-la, colhe-la...pelo que a gente viu a flor é um símbolo de esperança, mas símbolos de esperança brotam todos os dias, crianças nascem, pessoas casam, estrelas caem, a questão é que passamos por eles dormentes, e eles ficam lá, imperceptíveis, e talvez alguém até os note, mas é mais fácil ser observador da maldade humana do que ser o 'do contra' que findará isso.
ResponderExcluirSim, é mais fácil ver o mal do que a bondade,
ExcluirÉ mais fácil ver a derrota do que o longo caminho até a vitoria,
É mais fácil desistir agora do que tentar amanha,
É mais fácil aceitar que a esperança não sobrevivera
Do que simplesmente deitar-lhe um copo d'água
E esperar que prospere, perante a selva de pedra.
Mike Senshi